Não tenho a sensação de plenitude com a vida diária; não consigo ter objetivos na vida; fico impaciente com tudo e não consigo me concentrar… Mesmo que aquela correria logo após o terremoto tenha se acalmado, pelo contrário, sensações de tédio e de que mesmo se esforçando nada tem jeito vêm pesando a cabeça. Gostaria que essa sensação fosse um pouco mais positiva, mas o que seria melhor fazer?
Um dia, quando fui dar assistência depois do terremoto, havia uma flor na mesa de reunião. Como era um estado de emergência, havia muito nervosismo, insegurança e inquietação. Mas, com essa única flor, esse ar apreensivo parece que foi um pouco suavizado. Na verdade, foi uma pessoa do grupo de voluntários que trouxe essa flor. A pessoa que colocou a flor disse simplesmente “Achei que seria melhor se tivesse uma flor…”. Quanta graciosidade. Posso ter pensado por que não tinha trazido algo mais importante como alimentos se tinha tanta folga assim, no meio de tanta bagagem. Mas, o que se obtém com esta graciosidade é que um pequeno tranquilizante para o coração foi extremamente importante.
O “fazer elegância (graciosidades)” é muito eficaz para casos de demência (ninchisho). Quando a demência avança, o interesse pelas coisas diminui, pouco a pouco se importa menos com seu corpo, e só pensa em comer. Se fizer uma simples maquiagem nessas pessoas, num passe de mágica, ficam mais vivas e acabam ficando mais enérgicas. Para viver, comer é importante, mas maquiar-se não serve para nada. No entanto, para o coração viver, parece que maquiar-se é mais importante do que comer. E, mesmo para aqueles pacientes com demência avançada, ainda trazem consigo o sentimento de querer esse tipo de “elegância”.
“Achei que seria melhor se tivesse uma flor…”. Essa atitude, um tanto quanto “elegante”, que estava escondida em nossos corações, inesperadamente, trouxe de volta o pensamento positivo. Falando nisso, tirando o “o” de “oshare” vira “share” (que significa trocadilho). O senso de humor é o kokoro no oshare – uma forte arma para superar adversidades. Enfrentar sua condição com um sorriso. Ou então, tentar falar de um sonho que parece um pouco impossível. Queremos esse tipo de “piadista”. Sim!, os “trocadilhos de velhos” (ojisan no dajare) também são as “elegâncias” de velhos desajeitados. Vamos ouvi-los e considerá-los, por enquanto, certo?
Akinobu HATA, presidente do Centro de Bem-Estar e Saúde Mental de Fukushima